“Paulo Moura, que nasceu em Rio Preto, conquistou o mundo. Agora, com Paulo Moura, o mundo musical se encontra em Rio Preto. O bom filho à casa torna.” É assim que Halina Grynberg, viúva do músico Paulo Moura (1932-2010), psicanalista e empresária, define o projeto “Ensaiando Paulo Moura”, que vai movimentar a cidade de 25 a 29 de março. A ocupação artística conta com o apoio da Secretaria Municipal de Comunicação Social e integra a programação do aniversário de 162 anos de Rio Preto. Além disso, abre uma série de atividades preparadas pelo Instituto “Paulo Moura”, que será inaugurado hoje, às 19 horas, no Espaço Tom Jobim, no Rio de Janeiro.

“A partir de agora, não vamos mais deixar de produzir eventos. Rio Preto não só estará em nossa rota como será um centro de produção desta rota. A cidade já tem tradição em festivais de teatro e dança e queremos que a música instrumental também seja destaque”, explica Halina. O instituto é fruto de mais de dois anos de trabalho. Graças ao patrocínio da Vale (antiga Vale do Rio Doce), foi possível recolher, higienizar, digitalizar e catalogar o acervo, a fim de transmitir a obra de Moura às novas gerações e promover o intercâmbio de ideias entre artistas do Brasil e do mundo.

São mais de 10 mil itens, entre partituras, fotos pessoais e profissionais, cartazes, cadernos de estudos, reportagens, entre outros documentos de seu uso constante, entre 1960 e 2010. Composições autorais eruditas e populares dividem as atenções com arranjos feitos para outros artistas e servem como panorama do desenvolvimento estético da música instrumental brasileira.

Com direção geral da própria Halina e curadoria e direção musical da produtora Myriam Taubkin (Projeto Memória Brasileira), “Ensaiando Paulo Moura” é composto por ações gratuitas tanto em Rio Preto quanto nas capitais paulista e carioca. A população local poderá conferir palestra, cortejo, oficinas e apresentações de gala, com músicos que tiveram alguma ligação com o trabalho dele. Entre os convidados está a Orquestra Jovem Tom Jobim, regida por Heitor Fujinami, e as big bands Afroelectro e Mistura & Manda, que não por acaso sobem ao palco do Teatro Municipal “Paulo Moura” (veja a programação nesta página).

O Museu de Arte de São Paulo (Masp) abriga um concerto no dia 30 de março, enquanto o Espaço Tom Jobim recebe apresentações nos dias 10 e 11 de abril. O patrocínio nacional é do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES). De acordo com Halina, a intenção não é simplesmente homenagear o marido, que se destacou internacionalmente como maestro, clarinetista, saxofonista, compositor e arranjador de choro, samba e jazz. “Trata-se de uma ação de educação e difusão musical a partir de Paulo Moura. Essa terra colhe o que ela mesma plantou.”

Ainda na opinião de Halina, o maior legado de Moura é demonstrar que a cultura musical popular de um país mestiço como o Brasil nasce do povo e se tansforma em música culta dependendo do cuidado formal e estético que lhe é conferido. Ou seja, a música afrodescendente que permeia a história da nação e do próprio artista pode ser tão sofisticada quanto a música europeia ou norte-americana, por exemplo. “Música negra não é apenas ‘baticum’, mas um gênero complexo e refinado de formas rítmicas, que se desdobram numa harmonia rica, traçando linhas melódicas complexas.”

Em 1997, a Secretaria de Cultura de Rio Preto criou o Festival Internacional Paulo Moura, com curadoria do próprio Moura. Entretanto, os altos custos com convidados inviabilizaram sua continuidade dois anos mais tarde. Em 2007, o Instituto Brasileiro da Cidadania (Ibrac) lançou o projeto Rio Preto Instrumental, mas, também por problemas financeiros, a ideia não passou de um workshop e de um show de Moura no Teatro Municipal “Humberto Sinibaldi Neto”. Desde então, a cidade não teve outras iniciativas do gênero.

Serviço:
Ensaiando Paulo Moura. Entre os dias 25 e 29 de março, em Rio Preto. Grátis. Mais informações pelo telefone (17) 3203-1214 ou pelo site
www.institutopaulomoura.com.br

Programação em Rio Preto:

- Palestra “Por Dentro do Acervo Digital de Paulo Moura”, com Halina Grynberg e Cliff Korman. Dia 25 de março, às 19 horas, no 9º andar da Prefeitura

- Oficina “Ritmos e Cantos das Tradições do Sudeste”, com os preparadores Marcos Suzano, Denis Duarte, Maurício Badé, Sapopemba e Ari Colares. De 26 a 28 de março, das 14 às 17 horas, na Casa de Cultura “Dinorath do Valle”

- Oficina “Vamos Tocar na Banda”, com direção de Cliff Korman e assessoria de Daniela Spielmann. De 26 a 28 de março, das 14 às 17 horas, na Casa de Cultura “Dinorath do Valle”

- Apresentações de obras com arranjos de Paulo Moura pela pianista Clara Sverner e pelo Coral Paulista Ensemble. Dia 26 de março, às 18 horas, na Sé Catedral

- Apresentação de obras de Paulo Moura, com a Orquestra Jovem Tom Jobim e solistas. Dia 27 de março, às 20 horas, no Teatro Municipal “Paulo Moura”

- Apresentação de obras de Paulo Moura, com as bandas Afroelectro e Mistura e Manda. 28 de março, às 20 horas, no Teatro Municipal “Paulo Moura”

- Cortejo de rua com artistas e alunos das oficinas pelo Calçadão. Dia 29 de março, às 10 horas, na Praça Dom José Marcondes