El negro del blanco
Biscoito Fino, 2004


01. 04:55  El negro del blanco      
02. 03:24  Um chorinho em aldeia / Na Glória      
03. 04:00  Duerme negrito      
04. 04:35  La paloma      
05. 03:44  Valsa venezuelana      
06. 04:58  Simplicidade      
07. 03:28  Sons de carrilhões      
08. 03:31  Decaríssimo      
09. 06:13  Samba triste / Lapinha / Samba da bênção / Pra que chorar      
10. 02:31  De camino a la vereda      
11. 03:05  Gracias a la vida      
12. 03:20  Taquito militar      
Yamandu Costa e Paulo Moura unem ritmos brasileiros e latinos em CD pela Biscoito Fino
Julio Moura

“El Negro del Blanco” é o disco de música instrumental brasileira mais próximo da América Latina em todos os tempos (ou vice-versa: um disco de música latina sentida e interpretada sob a diversidade dos ritmos de cá). Não somente por reunir dois dos mais inventivos instrumentistas do país – o gaúcho da fronteira Yamandu Costa e o paulista de São José do Rio Preto, mas de alma carioca, Paulo Moura -, ou por incluir temas de compositores de Argentina, Cuba, Venezuela, Chile e Brasil, mas pela própria linguagem que estabelece. Nunca o choro, o samba, o frevo estiveram tão parceiros do tango, da milonga, da habanera, só para citar alguns estilos hermanos.

Mapeando a Latinoamerica musical, o violão de Yamandu e a clarineta de Paulo Moura partem da fronteira do Brasil com os pampas, dos argentinos Astor Piazzolla (“Decaríssimo”), Atahualpa Yupanqui (“Duerme negrito”), Mariano Mores (“Taquito militar”); sobem a Cordilheira e chegam ao Chile, de Violeta Parra (o clássico “Gracias a la vida”, gravado por Elis Regina na década de 70); abrangem a “Valsa Venezuelana”, de Antonio Lauro, cruzam a linha do Equador por México e Caribe (“La Paloma”, do espanhol Sebastian Yradier, composta no século XIX e considerada a primeira habanera) e chegam a Cuba por “El camino de la Vereda”, famosa na gravação do Buena Vista Social Club.

“Enxergo a América Latina como o grande potencial cultural do planeta”, avisa Yamandu. “O disco não tem a pretensão de preencher qualquer lacuna, mas acaba preenchendo. Devemos ficar ligados na riqueza da música de povos tão parecidos com o nosso. Somos próximos nos problemas e na arte, que vem do povo”, compara.

Segundo Paulo Moura, o disco realiza um projeto há tempos acalentado: “Sempre tive vontade de dedicar um disco à música latina, inserindo elementos da música brasileira. Conhecer Yamandu foi fundamental, pois ele conhece muitos temas, além de ser um desafio dialogar com seu virtuosismo. Fizemos tudo só com violão e clarineta, e o som adquiriu uma potência incrível”, avalia Paulo.

Yamandu e Paulo Moura se conheceram há três anos, apresentados pelo bandolinista Armandinho. Pouco depois, Paulo convidou Yamandu para fazer o violão do show “Eternamente Baden”. Durante um ensaio na casa de Paulo, o gaúcho abriu seu leque de influências latinas. Ficaram de fazer um disco juntos. Entrou ano, saiu ano – com direito a uma temporada para testar as músicas no Mistura Fina, no Rio - e o disco saiu. Chega agora às lojas, via Biscoito Fino. A música-título é composição de Yamandu.

“É um choro, mas com andamento em 6 por 8, típico das valsas venezuelanas. Dá um forte caráter latino à composição, que nem por isso deixa de ser bem brasileira”, situa. “Os temas latino-americanos foram basicamente apresentados por mim ao Paulo, e ele foi escolhendo o que queria gravar. Já o lado brasileiro foi quase todo sugerido por ele”, conta o violonista.

O lado brasileiro inclui autores de sopro e cordas, de Severino Araújo (“Chorinho da Aldeia”) e Raul de Barros (“Na Glória”), a Jacob do Bandolim (“Simplicidade”) e João Pernambuco (“Sons de Carrilhões”), além de um pout-pourri com temas de Baden Powell.

“Sempre fiquei admirado com essa distância entre o Brasil e os demais países latino-americanos. Já toquei na Rússia e Japão, mas raras vezes fui ao Chile ou Argentina. Espero que o disco ajude a intensificar este diálogo”, almeja Paulo.

Propósito endossado pelo parceiro Yamandu: “Pela minha formação, é absolutamente natural misturar os ritmos fronteiriços com o choro. Temos que acabar com essa história de os brasileiros desconhecerem completamente a música que se faz nos países vizinhos”.

“A visão que o disco propõe é reunir a influência negra na música do continente latino-americano à vertente ibérica do colonizador. Daí, el negro Del blanco e el blanco Del negro”, arremata Paulo Moura.

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